30.9.03

Como se o orvalho te tivesse beijado

(…)

Há quanto tempo deixaste de gostar de mim, há quanto tempo isto, deitas-te primeiro do que eu, acordas por um segundo quando chego à cama

- Importas-te de apagar a luz?

Sumida na almofada de costas para mim, dispo-me na claridade dos números do despertador, o colcha vibra acordando-te de novo

- Meu Deus

encontro de manhã os meus cereais numa bandeja e o apartamento vazio, um resto de gostas na cortina do chuveiro, a tua escova de dentes húmida ao lado da minha escova de dentes seca, a tua ausência tão presente na revista de moda esquecida no sofá, a tigela dos teus cereais no lava-loiças com a colher lá dentro, cheia até meio de água esbranquiçada, uma franja de tapete que um dos teus saltos descoseu, o colar mexicano

mexicano?

No tampo da cómoda, que roupa terás hoje, que penteado, que sapatos, com quem vais almoçar, se peço à minha secretária para falar com a tua a senhora doutora saiu ou se não saiu

- Diz depressa que tenho imenso trabalho

de forma que não sei de que é que estou à espera. Já com as chaves do automóvel na mão fico diante da casa de banho a observar as gotas na cortina do chuveiro e a imaginar-te saindo do duche coma toalha maior à cintura e a mais pequena na cabeça, escorrendo lagrimazinhas de fumo como se o orvalho te tivesse beijado. Imagino os teus pés nos azulejos, as tuas costas, os teus ombros, instalo-me ao volante contigo nua ao lado e a pouco e pouco, à medida que a garagem da empresa se aproxima, uma paz, um contentamento, uma exaltação de namorado. Tenho a tua fotografia aqui na estante dos livros, junto à medalha do torneio de ténis e à carta emoldurada do ministro, uma fotografia de há cinco anos se tanto, de óculos escuros, na praia, a acenares para mim. Costumávamos cear na varanda a afastar os mosquitos, dúzias de lanternas de barcos acendiam-se no mar. Talvez fôssemos felizes nesse tempo. Fomos de certeza felizes porque as paredes do coração eram tão finas que se podia escutar do outro lado.

António Lobo Antunes, in Segundo Livro de Crónicas, 2002

29.9.03

...

Chove.
Abro a janela e o cheiro a terra molhada conforta-me.
Talvez amanhã o fumo das castanhas já se sinta no ar, talvez as folhas castanhas tenham caído das árvores do parque e eu as possa pisar e sentir o estalar do Outono debaixo dos pés.
Talvez o frio volte mais depressa que a vontade das pessoas e eu me possa sentir mais feliz por gostar assim tanto do Outono. Talvez...

...

O tempo devia guardar-se em caixinhas de madeira com cheiro a alfazema e dar-se a quem nunca o pede.

28.9.03

Literatura Infantil

Histórias, histórias e contadores de histórias...

Para o ano que vem, não falto a este encontro.

...



2002

27.9.03

Beijos com arte

Uma colecção de beijos, aqui.

...

Viver sozinha de alma, cansa.

26.9.03

Me, Myself and I

I try to kill those ghosts inside of me
That voice you've spoke is yelling in my ears
(And I don't believe in love fools)
I'd like to have those eyes you want to kiss
I wish I had that voice you want to ear
(And I don't believe in love fools)
This feeling is so hard that I can't speak
I wish you touch my hair when I'm asleep
(And I don't believe in love fools)
The words you wrote are putting me away
I know that love was for somebody else
You and I know
You and I tried
You and I ran
Leaving old stories far behind
And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I

The Gift, do album Film

Ontem...

... uma colega contou-me que uma outra colega nossa, também ela professora, lhe perguntou o seguinte:
"Então, este ano, tens muitos burros?"

Achei inacreditável. Como pode uma professora pensar assim?

...

Às vezes estranho-me...

25.9.03

As Rosas Inglesas

Li hoje na Visão um artigo de opinião sobre o recente livro da Madonna, As Rosas Inglesas.
Como já todos devem saber, é um livro destinado às crianças e fala na história de quatro amigas que têm inveja de uma outra rapariga, que, por sinal até é mais infeliz do que elas.
Já li o livro e não gostei. Não gostei do moralismo que existe do início ao fim da história, não gostei da forma como está escrito, talvez fruto da sua tradução para o português e não gostei das ilustrações que não acrescentam nada ao que as crianças vêem todos os dias na maioria dos livros infantis que por cá se vendem e nos manuais escolares que, às vezes, apelam mais à ignorância do que à inteligência das crianças... mas isto é outro tema para mais tarde.
Em suma, achei o livro vazio.

A jornalista Sara Belo Luis refere que o livro vale a pena pelo seu conjunto. Passo a citar:
É pelo conjunto que o livro vale. Pelo cuidado colocado na edição, pela delicadeza, pela graça do enredo sem quasquer veleidades literárias. E também, pela "curiosidade" em ver os resultados de uma das operações de promoção mais bem montada do ano. (...)

Não concordo. Sobretudo, não concordo com o facto de se elogiar um livro por não ter veleidades literárias.
No meu entender, a elaboração de qualquer livro deve pressupor uma preocupação literária constante e essa preocupação deve ser ainda maior se falamos em livros infantis. Porque os leitores formam-se até aos 6/7 anos de idade e se, até lá, não são estimulados com leituras de qualidade, se não há o contacto com bons livros infantis, se não ouvem ler em voz alta, se os pais não lêem em casa, será muito difícil que essa crianças se tornem leitores mais tarde. Porque ter livros não significa ser-se leitor.

Pelos vistos, no meio de toda esta operação de marketing, o mais importante são os moralismos subjacentes à história e a pessoa que a escreveu.
Talvez a Madonna e os seus editores pensem que as crianças irão ler mais este livro por ser de quem é. Talvez pensem que o releiam uma série de vezes porque gostam de lições de moral e não querem esquecer que a inveja é um sentimento mau, um pecado até. Mas esquecem-se que a maioria das crianças gosta de ler livros pelo simples prazer de os ler. Porque simplesmente são atractivos do ponto de vista visual e literário ...não é sem razão que todas as crianças gostam da Menina do Mar, da Sophia de Mello Breyner ou de contos tradicionais...

Infelizmente, fico estupefacta quando leio artigos como este, quando uma jornalista que deveria preservar e defender a qualidade literária dos livros, diz que o livro vale pela inexistência de veleidades literárias.
Ao que chegámos...

...

Tudo caiu no dia em que deixei de sentir o teu sorriso encostado ao meu rosto. E foi aí que percebi que uma pessoa só não chega para traçar uma vida inteira.

24.9.03

Ando apaixonada...

...por um álbum de música da Lisa Ekdahl.


Oiçam algumas músicas aqui.

23.9.03

Será que...

...se um homem se arrepender sinceramente do que fez, poderá voltar ao tempo em que era mais feliz e viver aí para sempre?

do filme, The Green Mile

Me encanta Dios

Me encanta Dios. Es un viejo magnífico que no se toma en serio. A él le gusta jugar y juega, y a veces se le pasa la mano y nos rompe una pierna o nos aplasta definitivamente. Pero esto sucede porque es un poco cegatón y bastante torpe con las manos.

Nos ha enviado a algunos tipos excepcionales como Buda, o Cristo, o Mahoma, o mi tía Chofi, para que nos digan que nos portemos bien. Pero esto a él no le preocupa mucho: nos conoce. Sabe que el pez grande se traga al chico, que la lagartija grande se traga a la pequeña, que el hombre se traga al hombre. Y por eso inventó la muerte: para que la vida —no tú ni yo— la vida, sea para siempre.

Ahora los científicos salen con su teoría del Big Bang... Pero ¿qué importa si el universo se expande interminablemente o se contrae? Esto es asunto sólo para agencias de viajes.

A mí me encanta Dios. Ha puesto orden en las galaxias y distribuye bien el tránsito en el camino de las hormigas. Y es tan juguetón y travieso que el otro día descubrí que ha hecho —frente al ataque de los antibióticos— ¡bacterias mutantes!

Viejo sabio o niño explorador, cuando deja de jugar con sus soldaditos de plomo y de carne y hueso, hace campos de flores o pinta el cielo de manera increíble.

Mueve una mano y hace el mar, y mueve la otra y hace el bosque. Y cuando pasa por encima de nosotros, quedan las nubes, pedazos de su aliento.

Dicen que a veces se enfurece y hace terremotos, y manda tormentas, caudales de fuego, vientos desatados, aguas alevosas, castigos y desastres. Pero esto es mentira. Es la tierra que cambia —y se agita y crece— cuando Dios se aleja.

Dios siempre está de buen humor. Por eso es el preferido de mis padres, el escogido de mis hijos, el más cercano de mis hermanos, la mujer más amada, el perrito y la pulga, la piedra más antigua, el pétalo más tierno, el aroma más dulce, la noche insondable, el borboteo de luz, el manantial que soy.

A mí me gusta, a mí me encanta Dios. Que Dios bendiga a Dios.

Jaime Sabines


E depois de ler este poema, lembrei-me deste...


Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo a roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas —
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido." —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

………………………………………………………….

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
………………………………………………………….

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

………………………………………………………….

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Alberto Caeiro

22.9.03

Dia #6

Ao fim do dia, enquanto discutíamos o comportamento geral da turma... diz a Marta para o Telmo:

"És o mais velho da turma, tens de ser um homenzinho!"

A Marta tem seis anos, o Telmo tem sete.

Na quinta-feira...

... às 22:45, não percam este filme na RTP1.
Porque às vezes, há palavras, imagens, músicas e silêncios que se conjugam na perfeição.

21.9.03

estória vs história

Hoje em dia vê-se cada vez mais o uso da expressão estória para designar contos escritos ou orais enquanto que a expressão história utiliza-se quando há referência a factos históricos.

No ano lectivo passado tive uma pequena divergência com uma professora estagiária que queria utilizar a expressão estória numa actividade de Língua Portuguesa com os meus alunos. Não deixei. Achei que se estaria a introduzir um termo derivado do Brasil e que não se aplica ao nosso país.

Entretanto, fiz várias pesquisas em gramáticas, prontuários e na internet mas não encontrei nenhuma resposta precisa sobre este assunto. Apenas percebi que que o seu uso é facultativo não havendo unanimidade na utilização destas expressões. Portanto, vou continuar a utilizar o termo história.

...

Hoje, sinto a manhã mais luminosa pois sei que o meu dia será um encontro entre uns e outros.

20.9.03

Acreditar

Hoje começou o 11º curso de formação de voluntariado de apoio às crianças e adolescentes com cancro.
Somos cinquenta pessoas; muitas mulheres e poucos homens. Todos com vontade de ajudar, todos com algum tempo para os outros...

19.9.03

Voltei...

...com um livro na mão.

Antes de o comprar li a primeira e a última frase do livro.
Já há algum tempo que tenho este hábito e não sei bem porque o faço...

Desta vez, a primeira frase é assim:
"Aqui o mar acaba e a terra principia."

E a última:
"Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera"

Parece apenas uma feliz coincidência mas, mais do que isso, fez-me acreditar que o resto do livro me iria fazer perceber o sentido destas duas frases.

Não resisti... além disso, andava com vontade de ler este livro há muito tempo...

Vou...

...alí, ao encontro das palavras.
Já volto.

...

Fui comprar o nosso jantar. Trouxe tudo o que seria necessário para fazer um arroz de marisco e agora vou começar esta minha aventura na cozinha. Sim... porque sempre fizeste um arroz de marisco fantástico e eu apenas conseguia demostrar o meu jeito nas sobremesas.
Mas hoje quero testar-me, quero sentir o cheiro do marisco a cozer e pensar que és tu que estás na cozinha enquanto eu fico na sala a olhar para um ecrã que nada me diz.
Comprei também aquele gelado - Tiramisu - e quando o comer vou escolher os pedacinhos de bolo que estão no fundo da embalagem especialmente para ti. E lembrar-me-ei do sabor da tua boca gelada nos meus lábios quentes de desejo.

Vou fingir que espero por ti. Olharei para o relógio e dentro de mim crescerá a ansiedade de um encontro há muito tempo esperado.
No quarto estará apenas a luz da mesa de cabeceira acesa e encontrarás as minhas mãos carentes de afecto para te receber. Deitar-me-ei e fecharei os olhos. E quando adormecer, estarás comigo em sonhos que um dia já tiveram mais sentido do que hoje. Mas estarás aqui.

...

Sinto-me à deriva da vida.

18.9.03

Dia #3

Depois de dois dias de aulas, os meus alunos já me perguntam:

"É para escrever com letra de imprensa ou letra manuscrita?"

Seria mais fácil para mim e para eles utilizar as expressões, "letra de máquina" e "letra à mão", mas prefiro utilizar as definições correctas.
É a Língua Portuguesa a crescer.

...



Évora, 2002

Hoje...

...não me conheço. Sou alguém fora de mim mesma.

...

O prazer não tem apenas um momento preciso e localizado. Muito pelo contrário, pulsa e irradia pelo simples prazer de se adiar.

Manuel Lamas, in Os Dias de Missirá

17.9.03

...

Gostei desta definição.

O orgasmo é o instante em que o corpo dispara pela mente até se esgotar num abandono leve e doce.
Fernando, no seu Escrita Ibérica

...

Gostava que algumas músicas corressem com o tempo e me acompanhassem a vida inteira.
Sentir-me-ia mais presente.

...

Memento audere semper

16.9.03

Dia #1

Já cheguei a casa. Estou cansada mas sinto-me bem.
Conheci os meus vinte alunos. Já lhes sei os sorrisos, os olhares, algumas das tropelias...

Quase no final da aula disse-lhes para se sentarem nas almofadas que ontem pedi aos pais que trouxessem. Fui buscar um livro, sentei-me também no chão e comecei a ler-lhes a história. Calaram-se quase de imediato. Nenhum deles me interrompeu e ficaram assim, só a ouvir...
No fim, bateram palmas e sorriram e eu fiquei sem saber o que dizer.
Nunca tal me tinha acontecido mas fiquei tão feliz...

...

Tenho saudades de te ter à minha espera.

15.9.03

...

Há poemas cantados que me fazem ficar... assim.


O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina

O meu amor tem trinta mil cavalos
A galopar no peito
E um sorriso só dela
Que nasce quando a seu lado eu me deito

O meu amor ensinou-me a chegar
Sedento de ternura
Sarou as minhas feridas
E pôs-me a salvo para além da loucura.

O meu amor ensinou-me a partir
Nalguma noite triste
Mas antes, ensinou-me
A não esquecer que o meu amor existe.

Jorge Palma, Só, 1991.

Livros

A minha Professora de Literatura Infantil dizia-me que os presentes mais difíceis de oferecer são os livros.
E eu digo que talvez sejam os mais fáceis de receber, mesmo para aqueles que não gostam de ler, porque nunca podem dizer se gostaram ou não... ainda não o leram...
Além disso, é pouco provável que mais tarde se lembrem de lhes perguntar o que acharam do tal livro... (embora eu pergunte sempre)

O meu pai sempre me ofereceu muitos livros. Quando era pequena, escrevia-lhe cartas com uma lista dos livros que queria e colocava-a debaixo da almofada da cama. Dois dias depois, pela manhã, quando acordava, tinha um ou dois livros na minha mesa de cabeceira.
Foi assim que li três dos mais belos livros da minha infância:
O Meu Pé de Laranja Lima, José Mauro de Vasconcelos
Pequenos Vagabundos , Gianni Rodari
O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

Tinha 10 anos.

14.9.03

...

Há dias em que gostava de saber a pessoa que seria se a minha vida fosse outra, se os caminhos tivessem trocado as minhas voltas.

Fiz-me professora um pouco por acaso embora desde cedo o ensino estivesse presente nas minhas perspectivas de futuro. Mas acima de tudo, o desporto era a minha paixão, e ainda o é... Conciliar as estes dois aspectos era o futuro que queria para mim, mas a vida troca-nos os sonhos e os objectivos tornam-se diferentes com o passar dos anos.
O ensino e a educação ficaram; o desporto, só nos tempos livres.
Mas sou feliz com o que faço e sinto-me previlegiada por estar todos os dias com crianças.

Se a minha vida fosse outra, gostaria que não fosse muito diferente do que é agora. Até poderia viver noutro sítio... Braga ou Coimbra, de preferência, mas tenho a certeza que seria professora. E é uma certeza que se sinto absoluta e não vos sei explicar como, nem porquê...

...

Quando perdemos a esperança, será que alguém a encontra e faz dela sua?

...

Porque é que há pequenas coisas que nos fazem mudar de humor assim, tão depressa?

Canção

Tinha um cravo no meu balcão;
Veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
Veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
Só não dei o coração;
Mas se o rapaz mo pedir
- mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade
in Primeiros Poemas (1977)

13.9.03

...



Guincho, 2002

...

Ter filhos duplica-nos a intensidade da vida.
Rita, no seu Parapeito

Talvez seja por isso que quero tanto ser mãe...

12.9.03

Não vou sair.

Se calhar faço mal, mas tenho quase a certeza que hoje não seria boa companhia para ninguém.
Prefiro ficar em casa. Talvez vá ao clube de vídeo alugar um dvd, ou talvez não. Não me apetece dar de caras com o empregado e ter de suportar novamente as suas parvoíces como aquela do outro dia, quando me perguntou se me podia tirar uma fotografia... Eu devo ter ficado a olhar para ele com cara de parva e respondi-lhe com um "não" redondo e convicto. E fui-me embora surpreendida com o insólito da cena...

Adiante.

Ouvir música é das poucas coisas que neste momento consigo fazer.
A televisão aborrece-me, vi as notícias do dia e desliguei-a enquanto uma repórter não se conseguia lembrar do nome de uma das aldeias que estava a ser ameaçada pelo fogo.
Optei por ouvir Craig Armstrong - The Space Between Us. Um dos cds mais bonitos que ouvi até hoje.

Só a luz da mesa de cabeira acesa. O quarto está demasiado quente e tenho o pressentimento que esta noite terei dificuldade em dormir. Paciência, não me quero afogar em ansiolíticos, nem mesmo naqueles que supostamente dizem não fazer mal nem causar habituação.
Com a chegada do ano lectivo é isto que me acontece, começam as insónias, as noites mal dormidas, cinco ou seis horas de sono no máximo. Devia dormir mais, eu sei. E principalmente devia deitar-me mais cedo... mas não resisto à noite e ao silêncio que a acompanha. Mas prometo a mim mesma que este ano vai ser diferente.

Hoje à tarde estive a remexer em coisas antigas e encontrei uma caixa de lata onde guardei pedaços de momentos passados. Os cartões de entrada das escolas que frequentei, bilhetes de filmes que fui ver, uma folha de papel de um restaurante toda escrita pelos meus colegas do 12º ano, um bilhete da peça de teatro "Memorial do Convento" que vi no Teatro da Trindade em 1999, o bilhete do grande concerto dos U2 no Estádio de Alvalade em 1997, vários cartões de felicitações de aniversário, o meu primeiro cartão multibanco, o meu primeiro swatch já partido e parado no tempo, uma cassete audio com a gravação de uma sessão de estudo de Química mas também com muitas gargalhadas pelos meio, algumas cartas de uma amiga de longa data, bilhetes de comboio, facturas dos parques de capismo por onde já passei e tantas coisas mais...

Já é tarde. Daqui a pouco este post deixa de ter sentido. Vou continuar por aqui até que a música chame à superfície o cansaço que já está dentro de mim.
Boa noite.

Hoje...

... não estou nos meus dias.

11.9.03

Prática Pedagógica

Quando escrevi num dos post anteriores sobre as minhas preocupações relativas ao início do ano lectivo, referi certos aspectos que, no entender de algumas pessoas, pareceram burocráticos e estereotipados. Não pude deixar de sorrir...

Digo-vos com toda a certeza que nada disto tem a ver com algo estereotipado ou burocrático...
Todos estes materiais que referi e muitos outros são utilizados com objectivos específicos e estão subjacentes a uma pedagogia de trabalho muito própria que já existe há largos anos - Movimento da Escola Moderna
Para perceberam melhor do que se trata, cito um pequeno resumo sobre o MEM.

O MEM vem construindo um modelo sócio-cêntrico de cooperação educativa acelerador do desenvolvimento moral e cívico das crianças e dos jovens.
Os conteúdos programáticos transformam-se em actividades e projectos negociados cooperativamente entre professores e alunos a partir dos saberes extra-escolares radicados na vida dos alunos e das comunidades, para dar sentido social e imediato às aprendizagens.
A participação directa dos alunos na organização de todo o trabalho escolar, procura garantir uma implicação contratada no exercício da autonomia e da cooperação


Se quiserem saber mais pormenores e compreender melhor a utilização de todos esses instrumentos de trabalho que referi, vejam aqui e aqui.

E já que estou a falar em práticas pedagógicas e métodos de trabalho, não posso deixar de referir a Escola da Ponte, uma escola onde fazem mais, muito mais do que aquilo que eu consigo fazer sozinha na minha sala de aula.

...

.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................
.............................................................


Estas linhas deveriam ser feitas de palavras. As mesmas palavras que já ouviste um dia. Aquelas que repeti quando tudo fazia sentido.
Mas quando a vontade não é soberana, não há palavras que façam desaparecer os intervalos dolorosos que criámos entre nós. Por isso, deixo as linhas em branco e faço-me ao caminho que agora tracei para mim.

O Noctívago diz:

Não, não vou escrever sobre o 11 de Setembro, para isso aí estão os outros blogues. Estou seguro que cerca de 90% dos blogues hoje se vão dedicar ao assinalar desta data.


Espero que não tenha razão. Já basta o que a televisão, rádio e os jornais nos vão dizer sobre este assunto.
Sejam originais.

Não gosto...

...de acordar, levantar-me e continuar cheia de sono. Fico mal-disposta.

...

Nunca te oiço dizer o que me apetece ouvir.

Pronto.

Por hoje acabei.

Às vezes é preciso apanhar alguns sustos e entrar em stress para o trabalho começar a surgir. Esta noite foi muito produtiva; não acabei tudo mas já falta pouco para ter todo o trabalho organizado.
Agora sim, estou um pouco mais descansada.

Desde...

...o último post que ainda não parei. O trabalho está bastante adiantado e já começo a ficar cansada.

Esta noite preciso de dormir...
Ainda bem que amanhã é feriado por estas bandas...

10.9.03

Estou...

... pensativa, mas não só. Estou também, preocupada e ansiosa...

Ainda não tenho a minha sala de aula toda arrumada, falta-me fazer quase todas as grelhas de registo para os garotos: grelha de presenças, grelha de comportamento, grelha de registo do tempo e as grelhas dos ficheiros individuais. Tenho de acabar de fazer as etiquetas com os nomes dos alunos e as etiquetas com os nomes dos objectos mais importantes da sala. Preciso também de organizar todos os livros infantis que tenho para a biblioteca de sala de aula que quero criar e de fazer uma lista com os títulos de livros que ainda não tenho. Não me posso esquecer do jornal de parede onde, todos os dias, os alunos vão escrever o que gostaram mais, o que gostaram menos e o que gostariam de fazer... Preciso também de comprar um caderno com folhas brancas ao qual iremos chamar "Livro de Vida da Turma", onde os alunos irão escrever o que lhes apetecer.
Ainda tenho que escrever o programa do 1º ano, onde estarão todas as competências e objectivos que os alunos deverão atingir, para entregar aos pais na reunião de segunda-feira. Terei também de fazer um outro programa semelhante mas com uma linguagem mais simplificada, que será para os alunos consultarem durante todo o ano lectivo de forma a verificarem as aprendizagens realizadas.
Por fim, tenho que fazer a planificação das aulas para a próxima semana. Saber as actividades que vou realizar, procurar os materiais que necessito e deixar tudo escrito no meu Projecto Curricular de Turma que também ainda está por elaborar...

Agora, já estou assustada! Falta-me tanta coisa e eu aqui, nos blogs!
Se puder, volto mais logo.

Sweet Sarong

Adoro relógios.
Mas nos Swatch irrita-me o barulho dos ponteiros dos segundos. Por isso, à noite, quando estou a tentar adormecer, fecho-o sempre na gaveta da mesa de cabeceira.

De qualquer forma, este é a minha última paixão. Páro todos os dias na ourivesaria da minha rua para o ver.
Alguém mo quer oferecer? ;o)



9.9.03

Este é o meu corpo




Um livro de vida e de morte. Simplesmente fantástico.


Já ofereci este livro mas antes de o embrulhar, li-o... Depois, arrependi-me. Fiquei com a sensação que tinha roubado para mim a leitura de um livro que não me pertencia.
Fiquei a pensar que, se gosto de ler os livros pela primeira vez, também os outros devem gostar de o fazer.
Não torna a acontecer.

8.9.03

Já...



2002

...foram ao o Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações?

No ano passado, visitei-o com os meus alunos e este simulador de tornados foi a experiência que mais gostaram.

7.9.03

Li no Bisturi...

O fenómeno dos blogues teve já duas consequências.
Em primeiro, revolucionou as formas de comunicação, para melhor, superando a banal conversa de café, necessariamente curta e abrupta, potenciando a cultura, o debate de ideias e a expressão e aprofundamento de emoções. Em concreto, está a aproximar as pessoas dos outros e de si.
Em segundo, está a revitalizar a Língua Portuguesa, com a reconquista da sua riqueza, no plano ortográfico e estilístico, a redescoberta de autores, a partilha de prazeres.
A internet está a ser nivelada por cima, bem por cima. Basta atentar no nível dos blogues que se produzem em Portugal

Eu concordo.
E vocês?

Vou ver um filme...

...e não sei qual destes dois escolher.

One Hour Photo, com o Robin Williams

ou

Red Dragon, com o Anthony Hopkins

Sugestões, precisam-se.

2003/2004

Falta uma semana para as aulas começarem e estou feliz. Apetece-me trabalhar.
Já sei os nomes dos meus vinte alunos, já lhes conheço as idades. Têm quase todos seis anos, alguns ainda cinco... Eu, que nestes últimos anos habituei-me aos mais crescidos, com nove e dez anos, agora vou ter alunos muito novinhos.
Ainda não lhes sei os rostos, os sonhos, as angústias, as tristezas, as alegrias... mas tudo isso virá com o tempo.

Estou ansiosa, não sei bem porquê.
Sei que este ano me esperam infinitas burocracias na constituição do agrupamento ao qual a minha escola se agregou. Haverá reuniões, projectos a criar, actividades a definir, problemas a resolver. Mas é de tudo isto que se faz o ensino e a educação. Como a minha directora dizia numa das últimas reuniões, os professores não se podem colocar uns contra os outros, devem sim colocar-se do mesmo lado e a favor das crianças. Sempre. E eu digo que, se assim for, será meio caminho andado para que tudo corra bem. Concerteza que existirão sempre pontos de vista diferentes e opiniões contrárias mas, o mais importante de tudo será conseguir chegar a um consenso de forma a não prejudicar as pessoas mais importantes no meio de tudo isto: os alunos.
É por eles que não desisto.
Adoro o que faço.

Só...

...estive um fim-de-semana fora e já estava com saudades deste mundo e principalmente, de vos ler.
Até logo.

5.9.03

Enquanto vos vou lendo, como chocolate... e sabem que mais?

Não há nada melhor que uma tablete de chocolate Nestlé para levantar os ânimos... pelo menos por agora.

(E não... não engordo...)

Lovers at the Bastille



Lovers at the Bastille,Willy Ronis, February, 1957

O amor numa fotografia.

Promessa #1

Ir aos Açores. Comigo, só.
:o(

...

Ao som de Roads - Portishead

O que fazer quando não somos benvindos na presença e nas palavras?

Sair de mansinho e calar tudo dentro de nós. Esperar que as lágrimas deixem de correr e seguir em frente com a certeza que o perdão e a amizade, um dia, vencerão todos os silêncios.

Fim

Mais um blog que acabou...

4.9.03

Santiago Alquimista

Ontem, descobri numa livraria um folheto sobre este café teatro.
Fica no bairro da Costa do Castelo, a 100 m do Castelo de S. Jorge e tem uma programação bastante variada que vai do rock ao fado, passando pela música popular.
Um espaço a visitar.

Os objectos..



Maio 2002


...também podem falar de nós...


Tenho a sensação...

...que começo a divagar.
É melhor ir deitar-me. Estas horas tardias nem sempre fazem bem à mente.
Até amanhã.

Certeza #3

O amor não se procura, encontra-se.

Detesto...

...não conseguir realizar aquilo a que me tinha proposto.

...

Voltei, mas não escrevi.
A vontade perdeu-se numa série de frases que não faziam sentido esta noite.

3.9.03

Hoje apetece-me muito escrever, mas agora não tenho tempo.
Volto logo à noite.

2.9.03

Nomes

Não deixa de ser curioso saber os nomes da nossa imaginação...
Se participasse no Senhor dos Anéis, os meus nomes seriam...

Ruby Foxburr of Fair Downs - se vivesse no mundo dos Hobbits

e...

Merenwen Ciryatan - se vivesse no mundo dos Elfos

Experimentem aqui e aqui.

1.9.03



Novembro 2001

Estava a ouvir esta música e lembrei-me de vos mostrar esta fotografia...


A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

Sérgio Godinho
In Pré-histórias; 1972


O(s) nosso(s) tempo(s)

Um destes dias uma rapariga brasileira disse-me que o objectivo principal dos portugueses é comprar casa. Comprar casa, casar e ter filhos. Nada mais.
Contou-me que nos acha pouco atrevidos, que temos medo de gastar dinheiro em viagens e que não nos divertimos.

Disse-me também que a vida é o tempo que gastamos connosco e com os outros e que esse tempo, mais tarde, deveria estar cheio de histórias para contar.

E foi-se embora dizendo Divirta-se mais.

...

Hoje pensei muito na morte. Pensei na minha morte e na morte do outros.
Pensei na minha bisavó que faz 100 anos em Outubro e que, sempre que a vejo, me diz que não está cá a fazer nada.
Pensei que gostava de a abraçar hoje e de sentir o seu abraço apertado e as palavras que me diz ao ouvido sempre que me despeço Cuida bem de ti, filha.
E chorei, não sei bem porquê. Talvez fossem saudades. Talvez fosse o medo a chamar-me à consciência da vida.
Talvez.