25.9.03

As Rosas Inglesas

Li hoje na Visão um artigo de opinião sobre o recente livro da Madonna, As Rosas Inglesas.
Como já todos devem saber, é um livro destinado às crianças e fala na história de quatro amigas que têm inveja de uma outra rapariga, que, por sinal até é mais infeliz do que elas.
Já li o livro e não gostei. Não gostei do moralismo que existe do início ao fim da história, não gostei da forma como está escrito, talvez fruto da sua tradução para o português e não gostei das ilustrações que não acrescentam nada ao que as crianças vêem todos os dias na maioria dos livros infantis que por cá se vendem e nos manuais escolares que, às vezes, apelam mais à ignorância do que à inteligência das crianças... mas isto é outro tema para mais tarde.
Em suma, achei o livro vazio.

A jornalista Sara Belo Luis refere que o livro vale a pena pelo seu conjunto. Passo a citar:
É pelo conjunto que o livro vale. Pelo cuidado colocado na edição, pela delicadeza, pela graça do enredo sem quasquer veleidades literárias. E também, pela "curiosidade" em ver os resultados de uma das operações de promoção mais bem montada do ano. (...)

Não concordo. Sobretudo, não concordo com o facto de se elogiar um livro por não ter veleidades literárias.
No meu entender, a elaboração de qualquer livro deve pressupor uma preocupação literária constante e essa preocupação deve ser ainda maior se falamos em livros infantis. Porque os leitores formam-se até aos 6/7 anos de idade e se, até lá, não são estimulados com leituras de qualidade, se não há o contacto com bons livros infantis, se não ouvem ler em voz alta, se os pais não lêem em casa, será muito difícil que essa crianças se tornem leitores mais tarde. Porque ter livros não significa ser-se leitor.

Pelos vistos, no meio de toda esta operação de marketing, o mais importante são os moralismos subjacentes à história e a pessoa que a escreveu.
Talvez a Madonna e os seus editores pensem que as crianças irão ler mais este livro por ser de quem é. Talvez pensem que o releiam uma série de vezes porque gostam de lições de moral e não querem esquecer que a inveja é um sentimento mau, um pecado até. Mas esquecem-se que a maioria das crianças gosta de ler livros pelo simples prazer de os ler. Porque simplesmente são atractivos do ponto de vista visual e literário ...não é sem razão que todas as crianças gostam da Menina do Mar, da Sophia de Mello Breyner ou de contos tradicionais...

Infelizmente, fico estupefacta quando leio artigos como este, quando uma jornalista que deveria preservar e defender a qualidade literária dos livros, diz que o livro vale pela inexistência de veleidades literárias.
Ao que chegámos...




























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