[Hoje descobri que nos falta uma foto de familia, de toda a familia. Uma foto daquelas, com os avós, pais, tios e primos direitos, que reúna todos os sorrisos que me acompanhaam desde sempre.]
Adoro a minha familia. São o meu porto seguro. Pessoas simples com um coração enorme, como a minha avó paterna que chora sempre que voltamos a Lisboa e nos faz trazer pão, mais algumas cebolas, as batatas, a fruta, os bolos de azeite que faz ou os bolbos de flores que lhe peço todos os anos para plantar lá na horta da escola. Ou como o meu avó paterno que nos dias de festa se emociona sempre à custa de algum vinho a mais e do fado que vai cantando noite fora. Nessas alturas fala-me sempre de França, dos pinheiros que cortou, das noites que passou sem dormir, das saudades que sentia de casa... e as lágrimas correm-lhe cara abaixo e no fim diz sempre que está muito feliz por nos ter todos ali.
A minha bisavó. Faz 102 anos em Outubro. Já não ouve bem mas tem uma lucidez que ainda me surpreende e continua a dar palpites em todas as conversas feitas à roda do fogão. Quando lhe pergunto como está, diz quase sempre que já não está cá a fazer nada, que era tempo de ir para o outro lado. E abraça-me sempre como se fosse a última vez que me visse. É o abraço mais forte da casa.
Os meus pais. O apoio de sempre, a ajuda constante. Têm sido incansáveis comigo e com a minha irmã. Orgulho-me muito deles, muito mesmo... [e não preciso dizer mais]
A minha mana. Cinco anos de diferença nas idades. Formas de pensar um bocadinho diferentes, feitos completamente opostos. Ela muito extrovertida, eu mais introvertida. Sempre discutimos muito mas o que nos une é mais forte e nunca ficámos zangadas. É muito meiga e tem um jeito especial com crianças. Escreve muito bem, é o dom dela.
Os meus tios, irmãos do meu pai.
A minha tia L. tem uma enorme força de viver, é uma optimista por natureza. Apesar de todas as contrariedades da vida, encontrei-a sempre a sorrir, sempre com uma palavra amiga. Gostava de ter a força dela, de me agarrar sempre às coisas boas e de nunca desistir, como ela faz. E depois, é a ternura em pessoa ou não trabalhasse ela num lar de idosos e afirmasse com toda a convicção que adora o que faz.
Tio F. O mais novo dos meus tios, um espírito jovem, alegre e divertido. Uma pessoa muito responsável, pragmática e trabalhadora. Foi ele que me deu a minha primeira caneta na escola primária, no 1º ano, uma caneta verde e branca.
[É incrível como a memória guarda estes pedacinhos do passado]
Muitas pessoas confudem-no com o meu pai, são extremamente parecidos e além disso, têm um feitio muito semelhante. Casou com a rapariga mais bonita da aldeia, a minha tia. Ainda hoje os anos parecem não ter passado por ela e quem não a conhece continua a dar-lhe pouco mais de vinte cinco anos quando já tem mais de quarenta. Gosto muito dela.
A minha tia A. É surda-muda, ficou assim devido a uma meningite que teve em criança. Sem nunca ter ido à escola, sem saber ler ou escrever, é surpreendente a capacidade de comunicação que tem e a facilidade com que o faz.
Os primos.
N. - o primo mais velho, tem mais um ano que eu e já é pai. Juntos, comemos fatias de pão barradas com
Planta, cheias de açúcar e pepitas de chocolate, andámos atrás das ovelhas do nosso avô que teimavam em afastar-se umas das outras, apanhámos amoras quentes do sol que comíamos logo ali, brincámos às escondidas no milheiral... e fizemos grandes asneiras, como partir uma pata a uma das galinhas da capoeira ou deixar fugir o cão que entretanto se lembrou de estragar a horta do vizinho do lado... Foi o meu grande companheiro das brincadeiras de Verão.
R. - irmão mais novo do N. Um miúdo de 23 anos muito meigo, provocador e tal como a mãe, está sempre a sorrir. É o rapaz mais vaidoso que conheço, um verdadeiro conquistador de corações e as raparigas adoram-o...
J. - A minha prima mais velha, mas com menos dez anos que eu. Reservada, tímida, mas muito divertida. Dizem que somos muito parecidas de feitio... não sei. Conversamos muito e desabafamos ainda mais uma com a outra...
A. - Irmã de J. Com catorze anos é uma miúda extremamente responsável e empenhada. Já tem objectivos definidos para a sua vida, sabe o que quer e o que não quer. Ouve todas as conversas dos adultos com atenção e tem uma grande avidez em saber mais. É muito paciente e está sempre disponível para ajudar seja quem for.
M.- a benjamim. Tem um ano. É a primeira trineta da minha bisavó.
[Não me posso esquecer de fazer a fotografia de familia este Verão]