15.7.03

O Amor

Miguel Esteves Cardoso escreveu isto no seu livro Último Volume:

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do tá bem, tudo bem, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores de romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida.
Por onde quer que se olhe já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja.


Eu digo:

Sim , faltam gestos largos. Gestos que nos tragam ao amor e nos levem de volta ao amor dos outros. Mas a maioria das pessoas chama a isso lamechices ou pieguices. E cai mal ser lamechas, parecemos fracos por isso, por amar.
Mas eu acho que não. Amar faz-nos mais fortes, mais luminosos. Chamem-me lamechas ou o que quiserem. Acredito no amor.

O amor nunca é demais e os gestos também não. E se a vida é uma coisa e o amor é outra, então, faremos tudo para que coexistam mutuamente. A vida no amor e amor na vida. Mas não deixemos o amor fechar a loja.




























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