Um das razões pela qual saà do colégio particular onde trabalhava, foi o facto de achar aqueles meninos e meninas demasiado mimados. É óbvio que não posso generalizar, não posso dizer que todas as crianças eram assim, mas a grande maioria optava por querer fazer tudo à sua maneira. Não obedeciam e não tinham atitudes de boa educação; para eles não existiam palavras como "obrigada", "se faz favor", e "com licença".
Eram crianças que vestiam roupas de marca, que tinham uma empregada em casa, que passavam pouco tempo com os pais e também que recebiam tudo o que lhes pediam.
E escrevo isto a propósito de um artigo que li hoje na Visão.
Fiquei estupefacta com estas afirmações:
Aos 3 anos o Mário já tinha televisão no quarto e usava roupa de marca - "Ele não liga muito ao que veste. Nós é que gostamos de o ver bonito" - admitem os pais do menino, hoje com 5 anos.
As obrigações profissionais obrigaram-no [o pai] a passar uma noite fora e a filha mais velha deixou bem claro que só permitia a sua ausência se lhe trouxesse duas bonecas. "Sinto-me um bocado culpado. Trabalho 11 horas por dia e quando chego quero dar-lhes alguns momentos de prazer. Mas acho perfeitamente natural que ela peça um brinquedo e para mim faz sentido dar-lho".
"Tenho gozo com o prazer delas [as crianças] Mas toda a gente dá muitas prendas na famÃlia. Se eu não der parece que estou cá só para educar."
Fico com a sensação que os pais não sabem dar brinquedos. Não conseguem distinguir os desejos das necessidades das crianças e muitas vezes têm dificuldade em dizer não. Parece que a forma mais fácil de compensar as crianças pela falta de tempo dos pais, é estes darem os brinquedos que os seus filhos pedem.
A consequência será apenas uma como refere a psicóloga Leonor Falé Balancho, "as crianças que só recebem habituam-se mal. Entendem a dádiva como uma obrigação. Quando chegarem à adolescência não pedem, exigem."